terça-feira, março 07, 2006

As mulheres da minha geração

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É o único tema em que sou radical e intolerante, no qual não escuto argumentações:

As mulheres da minha geração são as melhores e pronto.

Hoje têm quarenta e picos, inclusive cinquenta, e são belas, muito belas, porém também serenas, compreensivas, sensatas e sobretudo diabolicamente sedutoras, isto, apesar dos seus incipientes pés-de-galinha ou desta afetuosa celulite que capitoneam suas coxas, mas que as fazem tão humanas, tão reais.

Formosamente reais.

Quase todas, hoje, estão casadas ou divorciadas, ou divorciados e recasadas, com a intenção de não se equivocar no segundo intento, que às vezes é um modo de acercar-se do terceiro e do quarta intento.
Que importa?
Outras, ainda que poucas, mantém um pertinaz celibatarismo e o protegem como a uma fortaleza sitiada que, de qualquer modo, de vez em quando abre suas portas a algum visitante.

Que belas são, por Deus, as mulheres da minha geração!

Nascidas sob a era de Aquário, com a influência da música dos Beatles,de Bob Dylan, de Lou Reed, do melhor cinema de Kulbrick e do início do"boom" latino-americano, são seres excepcionais.
Herdeiras da "revolução sexual" da década de 60 e das correntes feministas, que entretanto receberam passadas por vários filtros, elas souberam combinar liberdade com coqueteria, emancipação com paixão,reivindicação com sedução.
Jamais viram no homem um inimigo, apesar de que lhe cantaram umas quantas verdades, pois compreenderam que se emancipar era algo mais que colocar o homem para esfregar o banheiro ou trocar o rolo de papel higiênico, quando este tragicamente se acaba, e decidiram pactuar para viver em dupla, essa forma de convivência que tanto se critica, porém, que com o tempo, resulta ser a única possível, ou a melhor, ao menos neste mundo e nesta vida.

São maravilhosas e têm estilo, mesmo quando nos fazem sofrer, quando nos enganam ou nos deixam.

Usaram saias indianas aos 18 anos, enfeitaram-se com colares andinos,cobriram-se com suéteres de lã e perderam sua parecença com Maria, a Virgem,em uma noite louca de sexta-feira ou de sábado, depois de dançar Elraton, de Cheo Feliciano, na Teja Corrida ou em Quebracanto, com algum amigo que lhes falou de Kafka, de Gurdjieff e do cinema de Bergman.
No fundo de suas mochilas havia pacotes de Pielroja, livros de Simone de Beauvoir e fitas de Victor Jara, e ao deixar-nos, quando não havia mais remédio senão deixar-nos, dedicavam-nos aquela canção de Héctor Lavoe, que é ao mesmo tempo um clássico do jornalismo e do despeito, e que se chama Teu amor é um jornal de ontem.
Falaram com paixão de política e quiseram mudar o mundo, beberam rum cubano e aprenderam de cor canções de Silvio Rodriguez e Pablo Milanez, conheceram os sítios arqueológicos, foram com seus namorados às praias,dormindo em barracas e deixando-se picar pelos pernilongos, porque adoravam a liberdade e, sobretudo, juraram amar-nos por toda a vida, algo que sem dúvida fizeram e que hoje continuam fazendo na sua formosa e sedutora madureza.

Souberam ser, apesar da sua beleza, rainhas bem educadas, pouco caprichosas ou egoístas.
Deusas com sangue humano.

O tipo de mulher que, quando lhe abrem a porta do carro para que suba,se inclina sobre o assento e, por sua vez, abre a do seu acompanhante por dentro.

A que recebe um amigo que sofre às quatro da manhã, ainda que seja seu ex-noivo, porque são maravilhosas e têm estilo, ainda quando nos façam sofrer, quando nos enganam ou nos deixam, pois seu sangue não é tão gelado o suficiente para não nos escutar nessa salvadora e última noite, naqual estão dispostas a servir-nos o oitavo uísque e a colocar, pela sexta vez, aquela melodia do Santana.
Por isso, para os que nascemos entre as décadas de 40 e 60, o dia damulher é, na verdade, todos os dias do ano, cada um dos dias com suas noitese seus amanheceres, que são mais belos, como diz o bolero, quando está você.

Que belas são, por Deus, as mulheres da minha geração!

Zeca Peres

9 Comments:

At março 08, 2006, Blogger antónio paiva said...

.....Caro Confrade, tens razão e muita, a cada geração uma razão.....
Abraço

 
At março 08, 2006, Blogger AC said...

Mas onde tenho eu andado que passei ao lado de toda esta beleza, toda esta maravilhosa sedução?
As mulheres de quem falas são portuguesas?
Caramba que o texto é bonito, mas, cadê o subsantivo?

 
At março 08, 2006, Blogger Carlos Estroia said...

Abraços para as mulheres

 
At março 08, 2006, Blogger Desambientado said...

De acordo.
Se calhar estamos a ficar velhos...

 
At março 09, 2006, Blogger António Almeida said...

permite-me discordar neste ponto:
em todas as gerações há mulheres que nos «tiram do sério».
mas concordar neste: "muito belas, serenas compreensivas, sensatas e sobretudo... (as reticências são minhas) diabolicamente sedutoras!
e neste: "São maravilhosas e têm estilo, mesmo quando nos fazem sofrer".

 
At março 09, 2006, Blogger alyia said...

As mulheres de todas as gerações
(e os homens também)

 
At março 10, 2006, Blogger Isabel Magalhães said...

Gostei!

Revejo-me "n'O tipo de mulher que, quando lhe abrem a porta do carro para que suba, se inclina sobre o assento e, por sua vez, abre a do seu acompanhante por dentro", e noutras coisas mais...

Só faltou o "dark side of the moon" que todas nós temos. :)

Ah! Faltou falar das que nem sabem o que é um computador! :)))

[]

 
At março 21, 2006, Blogger deep said...

Com um elogio assim, qualquer mulher da tua geração se sente a mais bela e a mais sedutora das mulheres...

 
At maio 29, 2006, Blogger por uma lágrima said...

Cheguei tardiamente...
mas com um sorriso bem rasgado...
Li-te todo até ao fim
e...ficou dentro de mim,
a nostalgia do passado.
Parabéns

 

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